quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

ZARATHUSTRA (ZOROASTRO)

Boas palavras, Bons pensamentos, Boas ações
Por D.M.Santellano


No final do séc. VII e início do séc. VI a.C. Zarathustra (Zoroastro na forma grega) reformou a religião que os Iranianos herdaram dos Indo-Iranianos (1500 a.C aproximadamente).

Longe do contato com as civilizações da Babilônia, Zarathustra ensinou as tribos seminômades no nordeste Iraniano.
Levando em conta tradição iraniana cuja qual afirma que Zarathustra viveu 258 anos antes da conquista da Pérsia por Alexandre Magno (330 a.C.) e considerando que ele converteu o rei Hystaspes com 42 anos, podemos concluir que ele viveu entre 630 e 553 a.C..
Sua doutrina foi influente no desenvolvimento do Judaísmo e do Cristianismo, bem como do pensamento Islâmico e da Grécia antiga. Judeus e Cristãos identificaram Zarathustra como alguns de seus profetas, incluindo Ezequiel e Baruch.

A influência de Zarathustra no Ocidente é muito marcante. Diz-se que este foi mestre do grande Iniciado Pitágoras. Muitos livros escritos em grego são atribuídos a Zarathustra, livros tais que tratam de ciências naturais, astrologia e magia.
Foi visto como mago durante toda a idade média, sendo tal visão alterada somente no século XVIII, devido a ação dos estudiosos europeus liderados por A.H. Anquetil-Duperron. No século seguinte, Nietzshe, com o propósito de atingir seus objetivos literários e filosóficos mostrou Zarathustra não como um dos primeiros moralistas, mas sim como o primeiro dos imorais, em sua clássica obra "Assim falava Zarathustra"

Os Persas que emigraram para Índia por pressão dos muçulmanos conservam viva a religião de Zarathustra até os dias atuais. Além de fornecer base ética e moral ao tradicional politeísmo Iraniano, Zarathustra não se ateve somente as reformas religiosas. Foi crítico do nomadismo e sua luta pela fixação do homem à terra auxiliou na introdução da agricultura na região. Como eram os Iranianos criadores de gado, procuravam condições que lhes fossem convenientes para tal prática, buscando o melhor local para desempenharem a atividade plenamente. Com isso, viviam ao ar livre e atribuíam às forças natuirais certa devoção. Acreditavam num deus que cuidava do céu (Asman); num outro da Terra (Zam); outro da Lua (Mah); outro das águas ( Anahita ) e assim por diante. Este panteão era denominado Ahuras.



Os Vedas da Índia influenciavam diretamente a religião Indo-Iraniana na época, sendo Mitra e Varuna um dos deuses adorados pelo povo. Sendo a sociedade dividade em classes (governantes e sacerdotes, guerreiros e o povo) cada classe tinha seus próprios deuses a serem adorados. Nas classes mais elevadas, os sacerdotes (Karapans) praticavam-se rituais com sacrifício de animais e ingestão de uma bebida sagrada a base de uma erva chamada soma. A ingestão da bebida provocava sensações de imortalidade e visões do Nirvana. Anos mais tarde os Iranianos aprenderam a manipular o bronze, domesticaram o cavalo e muitos se tornaram guerreiros que iam à busca do gado alheio. Estes guerreiros, sem lei, adoravam os deuses da guerra e seus sacerdotes eram denominados Kavi, sendo estes grandes manipuladores da magia negra.
Enquanto na Índia havia maior compreensão do Universo e da natureza, na Pérsia o povo criou uma adoração mais motivada pelo medo do que pela fé. Ocorria-se um acontecimento natural de grande proporção tratavam-se como ira Divina, sendo então oferecido sacrifícios de animais para satisfazer a colera da deidade que manifestou tal ação.

Foi neste ambiente que nasceu Zarathustra, com a missão de corrigir estas distorções. Em meio ao politeísmo, afirmara que havia UM ser supremo regulador do Universo chamado Ahura Mazda. Tal óptica era completamente diferente do que era apresentado na época. Desde a tenra idade interessou-se por questões fundamentais como quem era o ser que ordenara criação e era capaz de implantar nos seres as boas aspirações. Dotado de grande sabedoria, desde cedo cultivava o silêncio e aos quinze anos já era conhecido por sua obra religiosa e a prática da caridade para com os necessitados, anciãos e animais. Aos vinte anos deixou o lar para viver em completa solidão durante sete anos, retirado em uma caverna na montanha. Antes de regressar ao seu povo, aos trinta anos recebeu uma Revelação Divina e então foi iniciado por uma série de sete visões. Após este episódio ainda vagou a procura da Verdade, totalizando assim dez ano de solidão.



"Um dia, quanto tinha a idade de trinta anos ele dirigiu-se para o rio Daiti onde ao cruzá-lo o Seu corpo submergiu na água - primeiro até os joelhos, depois até a cintura, e depois até o pescoço. Após atravessar para o outro lado ele executou o Yasna - ritual de Ijashne - quando então se apresentou a Ele uma Entidade brilhante e ardente que indagou o que ele queria. Zarathustra expressou o seu desejo que era entender a "Verdade". Então todas as perguntas que lhe atormentavam foram-lhe respondidas, pois o desejo dele era aprender sobre a Natureza e o Ser Supremo. A Entidade ardente - em chamas - era a Divindade da Mente Boa que disse para Zarathustra fechar os olhos e assim o transportou ao Tribunal de Ahura Mazda. Lá Ele viu o Deus Supremo, a Quem ele estava buscando com o coração e a alma. Viu Ahura Mazda ladeado por outras divindades poderosas, o Amesha Spentas. Zarathustra viu o Deus e o Seu luminar como uma incorporação da Pura Luz Celestial e Pureza Incorruptível Suprema".



O que o profeta sabia através de sua intuição foi corroborado por aquela visão, ou seja, pelo próprio Ahura Mazda. Compreendeu assim que Ahura Mazda era o senhor Todo-Bom e Todo-Sábio que emanava para as criações somente o que há de melhor, sem rival nenhum como preconizava o Mazdeísmo. Entendeu que todo o mal é gerado somente pelos seres humanos.

"Zarathustra pediu compreensão quanto ao tipo de Ser que era Ahura Mazda. Este lhe revelou então que Ele era verdadeiro, aquele de Quem se originou a caridade, tudo o que podia fazer as pessoas felizes; aquele que deu origem ao fogo, a água e os animais, com consideração e reverência, e que agia como protetor deles. Que a pessoa deveria ser um ser íntegro no mundo de homens, pois só assim ela poderia chegar ter felicidades e tornar-se imortal". Então "Ahura Mazda ordenou a Zarathustra que estabelecesse na mente das pessoas o pensamento divino, e que buscasse no reino espiritual a felicidade mesmo nas próprias aflições".

Começou então sua missão após esse episódio. Desde os trinta até os quarenta anos não foi ouvido por ninguém, a não ser seu primo. Todos duvidavam de sua experiência extrasensorial e de sua doutrina. Os sacerdotes o perseguiram severamente, como já ocorria antes mesmo de ter sua revelação. Sendo assim, teve Zarathustra que refugiar-se por um tempo e neste caminho chegou a um local onde o governante chamava-se Vishtaspa. Ficou dois anos tentando convencer o rei sem sucesso. O rei mantinha o argumento de que não deveria crer naquele estranho.
Assim foi, até certo dia um dos cavalos do rei adoeceu. Seus sacerdotes tentavam curá-lo de todas as maneiras possíveis, inclusive oferecendo sacrifícios para salvar o animal. Nesta empreitada, a discórdia perante o método mais eficiente para cura chegou a gerar atrito entre eles, até que Zarathustra, que foi criado em um ambiente rural, percebeu que o animal estava intoxicado. Sugeriu a Vishtaspa um tratamento muito utilizado em suas terras e o rei aceitou por não haver mais alternativas a que recorrer.
Dois dias após a medicação aplicada por Zarathustra o cavalo estava curado.
Todos acreditaram que um milagre havia sido operado para que o eqüino se visse livre da enfermidade. No entanto, Zarathustra afirmou que não havia feito nada além de ter utilizado a boa mente e os conhecimentos adquiridos em casa. Vishtaspa ficou encantado com tamanha sinceridade. Poderia o profeta ter tirado proveito da situação, mas sua humildade prevaleceu. Com isso, em pouco tempo não só o rei Vishtaspa e sua família foram iniciados, mas grande parte de seu povo.

A busca de Zarathustra deu-se como a de muitos profetas. A sociedade apresentava uma distorção nas respostas oferecidas, e então ele lança-se em busca das suas respostas motivadas pelo estado de convivência injusto de seu tempo. Aparece aí uma diferença por não tratar especificamente do problema da morte em seu legado. Formulou perguntas que o levaram a mais questionamentos ainda, nem sempre acompanhados de respostas. Descobriu assim o que queria, mas não como sendo um conhecimento privativo seu, mas sim algo que pode ser descoberto por qualquer um. Foi um homem comum que a partir de seu esforço e grandeza espiritual conseguiu perceber que vivemos em um mundo bom, criado por um Deus bom e destinado a uma alegria radiante.

Segundo sua visão, os problemas relacionados entre os opostos bem e mal tem sua solução na mente humana, cabendo ao homem manter bons pensamentos que organizam o mundo e a sociedade. Em contrapartida, os maus pensamentos fazem o contrário. Fica a critério do ser humano exercer o livre arbítrio para conduzir seu destino. O Cosmos passa a atuar a favor daquele que escolhe o caminho da boa mente e o que opta por alimentar a mente má carrega a angústia consigo. Não se trata de uma escolha definitiva visto que é um mecanismo dinâmico e progressivo. A escolha não determina a condenação ou salvação de ninguém, é apenas parte de um processo de aprendizagem ininterrupto cujo progresso de cada ser auxilia na evolução conjunta. O ciclo somente estará completo quando todos atingirem o mesmo patamar evolutivo.



A condição perfeita da parte garante o funcionamento perfeito do todo. A religião proposta por Zarathustra trazia em seu conceito o princípio da alegria participativa, colocando cada um como um parceiro de Deus em um projeto maior para a humanidade a partir da escolha do cultivo da Boa Mente, de Boas Palavras e de Boas Ações. Trata-se da ética da responsabilidade. Esse esforço, que inicialmente é individual e continuará a sê-lo, recebe, contudo o poder transformador de Deus, que traz em si todas as virtudes: justiça, retidão, cooperação, verdade, bondade etc. O poder transformador de Deus age no mundo em todos os setores e especialmente nas pessoas que lhe abrem a mente. Ele incentiva e capacita o ser humano à escolha e à prática do bem.

As pessoas que vão descobrindo a capacidade que têm de fazer essa opção vão se unindo na descoberta natural de que são parte de um todo magnífico, que se forma em parceria com Deus. Nesse sistema não há lugar de destaque a fé ou para a crença. Não é necessário crer; é preciso saber e agir de acordo com o que se sabe. Temos aqui, então, a religião do conhecimento. É a razão que se sobrepõe à fé e à emoção.

Sob o ponto de vista de Zarathustra o ser humano não é colocado como o centro Universal. Ao contrário, sua proposta era que o ser humano buscasse de forma harmoniosa ocupar seu lugar no mundo, sempre praticando bons atos e reverenciando a terra, o ar, a água, o fogo e todos os seres viventes. Esta reverência é uma forma de pensamento constante na doutrina de Zarathustra. Seu Deus não elegeu um povo escolhido, era abrangente. Nos ritos de sua religião até mesmo as mulheres poderiam tomar partido na liderança. Não havia distinção racial de espécie alguma em sua pregação.

Um dos pontos mais positivos na doutrina de Zarathustra é a lacuna que ele deixa para que sejam levantados mais e mais questionamentos, quase que impondo um desafio para seguirmos em busca de respostas, descobrindo a verdades pouco a pouco em um movimento de progresso dinâmico. Em seus cânticos ele faz 93 perguntas que fica sem respostas e nisso fica demonstrado a ausência de arrogância, a humildade deste ser de espírito tão grandioso. Com esta atitude ele não se coloca como dono de uma Verdade absoluta e, sobretudo demonstra que o que buscamos não cabe na especulação da restrita mente humana.



Em sua doutrina é ensinado ao indivíduo buscar sua autonomia e vivenciar sua individualidade. A partir da emancipação individual o homem conhece-se a si mesmo e cria uma concepção mais clara do próximo, obtendo-se assim a noção de comunidade. Diante disso, não ocorre uma exclusão do ego, pelo contrário, o ego se torna fator chave na aproximação com o próximo. Sendo o ego composto de aspirações elevadas vem a ser poderoso e determinante na capacidade de doação e desprendimento. Uma sociedade mais justa deve ser moldada perante estes conceitos de livre escolha, boa mente e buscando o bem comum a todos os seres. Os governantes e líderes devem ser escolhidos através de seu senso de justiça e por seu equilíbrio.

Zarathustra viveu em um tempo conturbado e difícil. Todavia, não via o mundo como um local completamente degenerado. Ao invés disso, percebia esta realidade como uma página de um processo evolutivo do qual todos fazemos parte. Devemos buscar nossa evolução para auxiliar no crescimento conjunto. Tal perspectiva de realidade vai de encontro com o que se pratica até os dias atuais no ocidente onde a recompensa e a punição nos são colocadas como principais fatores para nos estimular ou conter.



O Zoroastrismo consta de um conjunto de composições poéticas conhecidas pelo nome Gathas, composto pelo próprio Zarathustra e preservado durante milênios pelos zoroastrianos. No transcorrer dos anos acumularam-se muitos outros escritos em torno do Gathas, contudo muito deles foram destruídas pelos gregos e muçulmanos, especialmente durante a invasão mongol.

Zarathrusta foi martirizado aos 77 anos de idade por enquanto se encontrava orando em frente ao fogo sagrado no Templo.

O Gathas foi escrito num idioma muito antigo conhecido como Avesta relacionado de perto com o Sânscrito. Nele Zarathustra afirma que existe só Um Deus - Ahura Mazda - transcendente, mas em relação constante com os seres através de certos atributos. Estes atributos são o modo como Deus chega ao mundo. Embora não haja especificado o número exato de Atributos mesmo assim menciona especificamente sete deles em um conjunto chamado o Amesha Spentas. Cada um destes encarna um atributo de Deus, como também uma virtude humana. Eles também são símbolos para os vários setores de Criação:

Vohu Maca - Pensamento Bom - conectado com Animais
Asha Vahishta - Justiça e Verdade - Fogo e Energia
Kshathra - Domínio - Metais e minerais
Spenta Armaiti - Devoção e Serenidade - A terra
Haurvatat - Inteireza - Águas
Ameretat - Imortalidade - Plantas
Spenta Mainyu - Energia Criativa - os seres humanos.


Postado por D.M. Santellano

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